Conto Espírita: ANA, POR DETRÁS DA JANELA

ANA, POR DETRÁS DA JANELA

CARLOS FERNANDO DE HOLANDA

 

“Nas camadas profundas da consciência, aí se encontram fielmente registrados todos os acontecimentos do passado, porque lá eles deixaram traços indeléveis; as sensações ulteriores podem recobri-los até os fazer esquecer por completo, mas não os destroem nunca” (Gabriel Delanne, em A MEMÓRIA INTEGRAL)

 

– Veio um som de distância.  Depois os ruídos de água no vidro da janela.  E, mais após, de passos que ora se achegam, ora se afastam.

– Em cada momento me ressinto de algo que me rodeia, invisível…

Ana contemplava o distante, de dentro da janela.  A madeira respirava nos dilatados poros, pensou.  Não…  Era um respiro humano.  No entanto sozinha ela estava.  

Janela Visão Árvore - Foto gratuita no Pixabay

O céu azulmarinhava-se lentamente.  Ana à janela, ainda. 

Quando se afasta, caminha um pouco na sala e algo acontece:

– Que é isso? Quem me toca? Quem sussurra em meu ouvido? Quem vem aqui, sempre?

– Quando vivo fatos, estes se tornam impregnados no ambiente onde se deram.  De certo, fica uma sensação de algo que lá ficou, que perdi, que me tiraram.  Às vezes, um dia ensolarado, determinada rua, uma esquina, uma sala – me remetem a pensamentos inexplicáveis.

– Tenho um pressentimento de que seria levada a encontrar outras de mim neste processo.  Se visito certos lugares, vem-me a estranha sensação de que lá estive antes.  Tenho uns arrepios, lembranças.  

– Alguns desses locais me causam estranhamento, parece que vou sair de mim.  Em outros ambientes nem consigo permanecer… 

– Meu viver é essa sequenciada postura de cenas, grandes ou pequenas, breves ou não.  E- parece – de certo modo se inscrevem num espaço que se põe disposto à minha espreita.  Tenho o presságio de que certos índices me levarão a recuperar certas vivências…  Parece que já vivi antes!  Minha cabeça é um ventre grávido de recordações!

Ela diz da presença de “uma poeirinha branca, tal pedaço de gaze”, “uma nuvenzinha meio cinza perto dela”.

– Essa estranha formação que parece sair de mim, quando parece começar a condensar-se, movendo-se por uma vontade própria me assusta.  E eu saio correndo, rezando!

– De repente, desses bojos que pipocam poderão saltar elementos que perdi, que me furtaram.  Revivo cenas,  mas… não!  Não as recupero! Sorvo a possibilidade de nova – ou antiga? – vivência,  de novo confronto onde, revirando em garras, a vontade de não deixar fugir o que escapou, ousasse recuperar o passado.  Ou sentir reatados a mim os fragmentos que viriam íntegros na mesma idade que se me resvalou, que ficou no tempo…  Mas são índices apenas, talvez processados na gravidez de meus sonhos. 

– Uma vez, quando entrei em casa, tive a sensação de que vi pessoas aqui dentro…  Mas deve ter sido engano, porque, às vezes, nossa visão nos causa estranhamentos, não?  Ainda mais que revirei a casa toda e… não havia ninguém!

Ana, agora, acaba de entrar no Centro onde trabalho.  Entrou um tanto desconfiada…  Olha para todos os lados.  Gira sobre si mesma, aguardando a atendente.  Eu mesma a “empurrei” até aqui.  Estou bem perto dela, como acalmando-a com boas energias.  Sei que ela me presente.  Contudo não me farei visível. Não..

Sonhar com janela - Significado dos Sonhos

 

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