Alma de Estrela
Carlos Fernando de Hollanda
Nada se via de específico.
Dois campos – céu e chão – aguardavam. Poderiam caminhos, alternativas ali em latências. Tudo estava presente no futuro. Poder-se-ia imaginar diálogos, ações. Criava-se tudo com a mente.
No chão, no ar ou supostamente no céu seres possíveis aguardavam no útero do Tempo a vez de viverem. Presenças retiradas do estático mundo assumem atitudes, confrontando-se, agindo em esperas, inseridas de forma fantástica na estranha aventura da vida.
Ana contemplava o distante. Constatava o desenvolvimento de suas ideias, de seus projetos em relação ao ventre em construção, expandindo-se. O olhar riscava-se do céu às mãos pousadas sobre o espaço em que alguém se fazia. Imaginava o significado de cada significante. Esperava.
Ana esperava, alentava a esperança.
Olhava para o alto. Ouvia o roçar de seus cabelos entre eles a sentir o cheiro de chuva contida nas nuvens.
Seu queixo alevantou-se e os olhos fixaram-se em uma pequena estrela azulada a muita e muita distância. Voejante, viaja entre as nuvens agora.
As mãos estenderam-se e o gesto estremeceu o corpo do céu. Flutuante Ana a buscar no espaço a chama a vivificar-lhe o ventre. Movendo os braços, o rosto em êxtase, toca um luminoso corpo.
Flutua agora descendo lentamente. Trazia uma estrela. Um tanto difícil foi cortar o fio que a prendia no teto do céu. Ficou uma pequena cicatriz presa ao topo da estrelinha.
Nos seus braços, Maria.
A mãe do que viria…