DESSASOMBRAMENTOS
“No Museu das Almas do Purgatório, em Roma, estão registrados, silenciosamente, fatos incontestáveis que legitimam a comunicação dos espíritos.” (wikipédia)
“Diversos padres não só admitem a comunicabilidade com os Espíritos, como também escreveram livros e fazem conferências sobre o assunto.” (wikipédia)
Morava na parte oculta, remota daquele bairro. Tinha vizinhos? Sim, alguns. uns poucos. Reclusos.
Trouxera uns livros na vinda que vim da cidade, aquela a oeste.
Deste bairro, conheci uns padres. Também porque gosto de entrar em igrejas.
Há nelas energias que me envolvem, atraem. Emergem das paredes, das imagens, dos tetos. São câmaras de influências benfeitoras a nos regenerarem. Quem as frequenta e, principalmente quem as frequentou, nelas plasmam fervores, imprimem preces na impressionável atmosfera. Cantos ressonam para ouvidos de ouvir. Nelas persistem presenças de que suspeito…
Fiz-me amigo de certo clérigo.
Um dia, levei a ele os livros. Cinco livros, aos quais chamam de Codificação. Quem me lê, sabe quais são. Me perguntou se eu acredito. Sim. Então siga nesses estudos.
Dos livros me vêm recortes de ideias que divido com ele. Me diz que há o esotérico e o exotérico. O primeiro é restrito a, digamos, iniciados. São verdades que sabem, que a eles vem pois é preciso. Estudos do espiritual, fenômenos espiritualistas.
O esotérico é o que se passa para o público. O que a maioria aceita.
Certo dia, encontrei um padre de batina marrom, sentado no primeiro banco daquele templo. Quando me aproximava, levantou-se e… desapareceu de repente. Teria entrado em alguma porta? Por trás do altar? Piscara eu, a ponto de perdê-lo de vista?
Era então um domingo. Passava distraído diante da magnífica porta daquela igreja. Magnífica pois toda talhada em madeira, apresentava a altura de uns três metros. Por vezes sentava-me em um banco da praça em frente, à espera de sua abertura. Suas duas folhas deslizavam por meio de trabalhados gonzos de metal envelhecido. Imaginava um portal para a dimensão em que fenômenos se sucediam sob o silêncio. O limiar de maravilhas para além do comum, ao longe dos avelórios comuns.
Por vezes contemplava abrirem-se sem que mãos humanas o fizessem.
Às imagens, movimentos de mãos e cabeças suspeitava moverem-se. Impregnadas nelas, preces e reverências faziam com que salutares e reconfortantes energias pairassem sobre mim, sobre quem ali entrasse. Sentia seus olhares ao passar por elas.
Sim. Certamente morava nelas suspeitadas essências. A quem dizem sensitivo não faltam sensações, mistérios, vozes e presenças no sagrado bojo de algumas abadias.
Nosso perispírito sensibiliza-se com a ação magnética espiritual, sendo afetado pela energia presente nos ambientes, a psicosfera local.
Havia uma mulher, sempre diante da imagem de Maria tendo ao colo seu filho, envolta em longo vestido azul, longos cabelos negros que, repentina, sumia ao passar por uma parede. Vezes havia em que seguia em outra direção esvanecendo-se no ar…
E quantas presenças sentadas ou ajoelhadas diante dos bancos! Pessoas entravam no templo e dispunham-se nos mesmos bancos, sem ao menos as saberem.
De onde persistia o manancial para tantos fenômenos?
Afirma-se que o ectoplasma pode ser fornecido por pessoas que estejam no ambiente e, também, que nos objetos – em nosso caso as imagens – condensam-se energias positivas devido às emanações das fervorosas preces de pedidos e agradecimentos.
Tais energias podem até serem transpassadas inconscientemente para o ambiente, bancos, paredes, tetos dos templos.
Pois do território presente nas igrejas, com suas imagens de elevados Espíritos protetores denominados santos, do Governador Planetário e sua amantíssima Mãe, pelos tetos, paredes, vitrais, altares e objetos emanam energias de altíssima consolação.
Assim era, naquele tempo. Assim é…
CARLOS F. DE HOLLANDA
Referências:
Zimmermann, Zalmino – PERISPÍRITO – 3ª ed. rev. e ampliada – Campinas, SP: Allan Kardec, 2006
Peralva, Martins – ESTUDANDO A MEDIUNIDADE – 27ª ed. – Brasília: FEB, 2019