Animais têm carma?
“Será que um animal que sofre de alguma doença maligna ou se torna mortífero pelo treinamento humano adquire carma?”
Mário Frigéri (mariofrigeri@uol.com.br)
Nosso estudo de hoje trata deste delicado tema: animais têm carma? Será que um animal que sofre de alguma doença maligna ou se torna mortífero pelo treinamento humano adquire carma? Temos uma amiga professora que mora em Indaiatuba. Há alguns anos, ela nos questionou a respeito de um cão que havia morrido de câncer e nós lhe demos a resposta possível, mas ficamos em dúvida se o assunto tinha sido tratado com a profundidade e abrangência que requeria.
Lendo, porém, há pouco tempo uma entrevista concedida por Francisco Cândido Xavier a respeito desse assunto¹, percebemos que o tema é mais complexo do que se possa imaginar e ainda não foi tratado com a devida profundidade. Essa nossa amiga dá aulas de Inglês em sua própria casa. Uma de suas alunas perguntou-lhe se animais têm carma, visto que uma fêmea da raça pastor alemão, que lhe pertencia, morreu de câncer. A professora ficou em dúvida quanto à resposta. E sabendo que nos
interessamos por esse tipo de assunto, pediu-nos auxílio.
Nós também temos muitas dúvidas a respeito. Mas, segundo estudos que vimos fazendo na Doutrina Espírita e em outras fontes, o carma – soma de débitos e créditos de cada um – é fruto do livre-arbítrio. Note o leitor que dissemos: soma de débitos e créditos, porque carma é vulgarmente entendido somente em sentido negativo, embora ele possa ser constituído só de bem-aventuranças, como o carma dos anjos.
Onde não há conhecimento do bem e do mal não pode haver responsabilidade individual, porque a Lei julga mais a intenção que o ato. Animais não têm livre-arbítrio, portanto, não têm carma. Eles progridem pela força natural das coisas, arrebatados pela torrente do progresso universal, e não por sua própria vontade ou esforço².
Podem até ser adestrados pelo ser humano, dentro da relativa elasticidade da faixa em que evolucionam, atingindo níveis admiráveis de aprendizado, mas isto não infirma a fatalidade estabelecida pela Lei nesse patamar evolutivo, porque retornam ao status quo logo que deixados à sua própria sorte. Eles só irão imprimir vontade e velocidade à sua evolução quando atingirem o reino humano.
Os animais ferozes, que se destroem uns aos outros para se alimentarem, o fazem na mais perfeita inocência e somente para atender as suas necessidades imediatas. São comandados pelo instinto (que é o precursor da razão, da inteligência e do livre-arbítrio), mas em um nível em que esse instinto é praticamente automático e mecânico. Quando ocorre um desastre ecológico de grandes proporções, como o afundamento de um navio petroleiro, o petróleo polui as águas, chegando às praias, infectando as plantas, matando os peixes, contaminando as aves e revestindo-as de negro com aquela cobertura pegajosa que temos visto, com muita tristeza, na mídia.
Não seria lógico dizer que os animais atingidos por essas calamidades estejam resgatando débitos do passado, porque animais não são devedores e, portanto, não têm o que resgatar. Já não se pode afirmar o mesmo em relação aos seres humanos, quando um terremoto ou maremoto atinge determinada região. E notem aqui a sabedoria da Lei: o cataclismo não ocorre naquela região porque as pessoas a serem atingidas estejam lá, mas as pessoas em débito com a Lei é que são conduzidas ao longo do tempo para lá, onde o evento, programado com grande antecedência, deve ocorrer³.
A Lei Divina não é Lei de improvisos. Da mesma forma, o ambiente psíquico da Terra está poluído, em grande parte, por pensamentos satanizados, hediondos e fesceninos emitidos por vasta parcela de seres humanos imaturos e invigilantes, e pela vibração dos atos criminosos que eles engendram no silêncio das trevas e executam na calada da noite – e também à luz do dia –, os quais fariam enrubescer os seres mais brutos da escala zoológica. Basta olhar o noticiário do dia a dia para ver a que nível subumano pode baixar o espírito inconsequente do homem.
Essas correntes de miasmas pestilenciais de origem mental4 (formas-pensamento que vagueiam em nuvens ou serpenteiam em faixas entre os humanos, conduzindo os vírus mortais das piores doenças deste mundo) passam a circular nas comunidades onde são geradas e, dali, espalhando-se, a infeccionar a psicosfera do planeta, facilitando sua absorção pelos seres humanos que com elas se afinam e, de forma natural e automática, possivelmente também pelos animais e plantas de todas as espécies que por elas forem envolvidos. Até no reino mineral isto acontece.
A água servida nos lares, cuja consistência quântica pode ser considerada um tipo perfeito de mata-borrão psíquico, também absorve as irradiações intelecto-emocionais de amor ou ódio geradas pela família no recesso doméstico, canalizando bem-estar ou mal-estar àqueles que dela se servem5. É claro que – conforme já assinalamos – os seres humanos em geral não assimilam de forma aleatória e automática essas emanações nocivas como se fosse por osmose. Tudo está submetido a uma lei de compensação ou correspondência.
Você só atrai o que se identifica com seu ímã cármico. Enquanto um Nero as assimilaria de pronto, um Francisco de Assis passaria incólume por elas. As grandes transgressões à Lei, perpetradas ao longo dos milênios por aqueles que afrontam as correntes do bem, entranham-se no psiquismo do infrator como cápsulas do tempo, que André Luiz chama de “sementes de destino”,6 e que serão liberadas no futuro de cada um para o necessário rea justamento. Mas as nuvens pestilenciais também concorrem para lesionar educativamente os que, no reino humano, não aprenderam a vivenciar o orai e vigiai do Cristo – o maior antídoto que existe neste mundo contra o mal em todas as suas manifestações. Porque, nunca será demais recordar: seremos responsabilizados não só pelo mal que fizermos, mas também pelo bem que, por omissão, deixarmos de fazer, dispondo de meios para realizá-lo.
Vários tipos de dores
A respeito desta expressão “lesionar educativamente” os que, no reino humano, não aprenderam a vivenciar o orai e vigiai do Cristo, que empregamos acima, é aconselhável atentarmos, em relação aos animais, no que preleciona o instrutor espiritual Druso. Segundo esse instrutor de alta sabedoria, a dor é ingrediente dos mais importantes na economia da vida em expansão. Por isso, podem ser identificados na experiência terrestre três tipos de dores, que condensamos a seguir: dor-evolução, dor-expiação e dor-auxílio.
1. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o ser, sem a qual não existiria progresso.
2. A dor-expiação, por sua vez, trabalha no ser humano de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la perante a Justiça Divina.
3. Muitas vezes logramos vantagens em determinados setores da experiência, perdendo em outros. Outras vezes, interessamo-nos vivamente pela sublimação do próximo, esquecendo-nos da melhoria de nós mesmos. Assim, pela intercessão de amigos espirituais devotados à nossa felicidade e à nossa vitória, muitas vezes recebemos a bênção de prolongadas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas na transição da morte. O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência física, habilitando-se, por meio de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitável na Vida Espiritual.7
Vemos assim, em termos bem simples, que a dor-evolução, que atua de fora para dentro, é uma espécie de empurrão fraterno utilizado pelos mecanismos da Lei para dar maior impulso evolutivo aos seres inconscientes ou semiconscientes. O sofrimento dos animais pode, em princípio, ser classificado dentro dessa categoria. A dor-expiação, que atua de dentro para fora, é simplesmente a cobrança compulsória exercida sobre os seres conscientes que não se dispuseram a quitar de forma voluntária o que devem à Lei. São os que sofrem rilhando os dentes. E a dor-auxílio, que atua de forma genérica, bem
mais branda que a anterior, pressupõe a boa-fé da criatura em débito, tornando-se, por isso, merecedora de ter sua provação amenizada. São os que sofrem irradiando uma serena aura de conformação.
Portanto, no reino humano, as pessoas recebem de acordo com a semeadura (semeiam o bem, colhem o bem; semeiam o mal, colhem o mal), submetidas que estão à Lei de Causa e Efeito. Já nos reinos vegetal e animal, os seres desses reinos sofrem passivamente a influência boa ou má exercida pelo homem, que, devido ao grau biológico e intelectual atingido, é o senhor supremo do planeta, gozando de liberdade para, em tese, destruir até a própria casa planetária que o acolhe.
Mas como a Lei de Deus é justa, os seres passivos dos reinos inferiores que sofrerem indebitamente esses malefícios deverão ser beneficiados, de forma natural e compensatória, em sua marcha evolutiva. E as doenças que contaminam as plantas bem como os sofrimentos que atingem os animais não são perdidos: irão sensibilizando progressivamente o Espírito embrutecido do homem, amolecendo as fibras rijas de seu coração, até que ele atinja o entendimento espiritual necessário para se tornar um colaborador de Deus no acolhimento amigo aos seres inferiores e na harmonização da vida universal.
O que está exposto acima é uma reflexão, não uma opinião. Como o pensamento humano é progressivo e está sempre avançando no tempo, pode ser que amanhã, com o advento de novas reflexões e ensinamentos mais profundos dos estudiosos da matéria, outras luzes sejam acrescidas a este entendimento, para esclarecimento de todos nós.
REFERÊNCIAS:
1 Disponível em: http://docplayer.com.br/76725254-Chico-xavier-man-dato-de-amor-autores-diversos.html Acesso em: maio 2019.
2 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 7. imp. Brasília: FEB, 2019. q. 602. 3 ______. ______. Vide q. 526 e faça o paralelo.
4 XAVIER, Francisco C. Os mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 47. ed.11. imp. Brasília: FEB, 2018. cap. 18 –
Informações e esclarecimentos.
5______. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. 64. ed. 7. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 10 – No Bosque das Águas. 6
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. 27. ed. 8. imp. Brasília:
FEB, 2018.
cap. 19 – Alma e reencarnação, it. “Sementes de destino”.
7 XAVIER, Francisco C. Ação e reação. Pelo Espírito André Luiz. 30. ed. 7. imp. Brasília: FEB, 2017. cap. 19 – Sanções
e auxílios.