CARIDADE, O REMÉDIO DA ALMA
Ana Paula Soares
Diferente do que muitos acreditam, a caridade não consiste apenas nas esmolas que damos ou nos auxílios materiais que distribuímos.
Ela consiste naquele movimento interior presente em Jesus: o sair de si para estar com o outro, nos seus sofrimentos, nas suas alegrias. A caridade é fazer da vida uma pró-existência, uma vida voltada não para si mesmo, mas para o outro (DUARTE, 2013).
Na questão 886 do Livro so Espíritos, Kardec questiona aos espíritos qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, e a resposta que ele obteve foi: Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
E, praticar o bem, a indulgência e o perdão exige um pouco de esforço de todos nós, mas não é impossível para ninguém (SOBRINHO, 2017).
De acodo com Pessenda (2018), o comportamento caridoso não é algo espontâneo e natural em muitos de nós. Sê-lo, em determinadas circunstâncias, ainda nos causa um certo desconforto. E quantas são as desculpas que produzimos para não nos envolvermos com o próximo! É a falta de tempo, de recursos financeiros, de jeito…
A caridade é uma disposição íntima ativa e dinâmica, que se manifesta das mais variadas formas: em pensamentos de bondade, em conselhos úteis, em alimento e recursos na hora certa, em força que reanima (PESSENDA, 2018).
Caridade pressupõe necessariamente convívio. Afinal, não é somente destinar verbas às obras filantrópicas, mas sim participar da vida em família, dos problemas dos semelhantes, das dificuldades dos necessitados, abrindo o coração para o mundo (SCHUTEL,2000).
Essa caridade pregada e vivida pelos cristãos há milênios é a força na qual muitas pessoas conseguem livrar-se dos males causados pela depressão (DUARTE, 2013).
A prática da caridade concederá, ao deprimido, o desenvolvimento da humildade, ou seja, vai fazer com que o mesmo passe a enxergar seu real tamanho e valor diante da criação, nem mais e nem menos do que é, vai promover a sua auto-aceitação.
Há que se ter muita humildade para aceitar a vida como ela é, compreender suas reclamações endereçadas à nossa consciência e tomar uma postura reeducativa. (ERMANCE DUFAUX, 2003)
A ação da caridade sobre o próximo é uma terapia fundamentada no amor que atinge principalmente aquele que a executa (NOVAES, 2001).
A caridade como uma das terapias utilizadas no tratamento da depressão está baseada no amar e no servir, pois assim, o paciente tem a chance de redimensionar o sofrimento através do contato com a dor do outro e descobrir as capacidades ainda latentes. Quando o ser envolve-se com sua reforma íntima, responsabilizando-se pela parte que lhe compete na cura, não há sofrimento que dure para sempre e nem dor que não cesse (OLIVEIRA, 2018).
De acordo com Pessenda (2018), o sentimento de caridade, complementado pela ação caridosa, diminui o poder do ego estimulando o processo de desenvolvimento espiritual. Psiquicamente, o indivíduo consegue melhor elaborar seus conteúdos inconscientes bem como aqueles conscientes que impedem a percepção de si mesmo. Esse sentimento provém do Espírito e se torna consciente com o exercício constante e persistente da ação caridosa.
Estar em paz é garantia para o equilíbrio psíquico, previne os acessos abruptos do inconsciente e inibe as obsessões. Nesse estado de paz, o indivíduo entra em contato com os Bons Espíritos, favorecendo sua motivação para viver. Semelhante estado se alcança com a vivência da caridade, pois ela promove o bem estar psíquico preparando a mente para vencer as investidas persistentes dos conflitos oriundos das vidas passadas enraizados no inconsciente (PESSENDA,2018).
A caridade é, em todos os mundos, um amparo de salvação, o nosso caminho para a verdadeira felicidade.
REFERENCIAS
DUARTE, José Luciano. Depressão e Caridade Fraterna. Gazeta de Alagoas. Edição de 26 de março de 2013. Disponível em: http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/noticia.php?c=220184 Acesso: 03/09/2020.
ERMANCE DUFAUX. Espírito. Reforma íntima sem martírio. Psicografado por Wanderley S. Oliveira. 2 ed. Belo Horizonte: INEDE, 2003.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. [Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa.] Araras, SP. IDE, 182ª edição, 2009.
NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz de. Psicologia do Evangelho. 2ª. ed. Salvador, BA: Fundação Lar Harmonia, 2001.
OLIVEIRA, Ana Lídia Mafra Bicalho de. Uma abordagem integral da depressão. 2018. Disponivel em: https://heal.org.br/wp-content/uploads/2014/02/Texto-DAE-Uma-Abordagem-Integral-da-Depressao-Ana-Lidia-Mafra-Bicalho-de-Oliveira.pdf Acesso: 04/09/2020.
PESSENDA, Silvia Helena Visnadi. Caridade. À Luz do Espiritismo. 2018. Dispnível em: http://www.aluzdoespiritismo.com.br/artigos/61/caridade Acesso: 04/09/2020.
SCHUTEL, Cairbar (espírito); GLASER, Abel (psicografado por). Fundamentos da reforma íntima. 3ª. ed. Matão: Casa Editora O Clarim, 2000.
SOBRINHO, Geraldo Campetti. Caridade. Voz da Mocidade: Juventude e Espiritismo. Grupo Espírita Casa do Caminho, Guará II, DF, Ed. 9, jun. 2017.