Autoconhecimento, uma jornada interior.
Autora: Melissa Mayoral
1. O Caminho: um relato de experiência
Autoconhecimento, uma jornada interior traz reflexões sobre como ao longo de nossa história aprendemos e entendemos os mecanismos da vida e nos inserimos neles. Há mais de quinze anos frequento Centros Espíritas e ouço falar sobre a necessidade de autoconhecimento. Para falar a verdade nunca entendi bem como isso funciona, apesar de também fazer terapia há muitos anos. Sempre ouvi sobre essa necessidade, da busca pela auto compreensão, mas não assimilava como isso podia melhorar a minha Vida.
Muitos tem medo de confrontar sua realidade, seus defeitos, suas sombras, e, até mesmo sua imagem no espelho. Porém, posso dizer hoje, que esse trabalho de remover as camadas do ser, é libertador, se feito da maneira correta.
Durante a pandemia venho me dedicando a estudar o Espiritismo mais seriamente e essa questão do autoconhecimento voltou forte. Joanna de Ângelis pontua muito bem sobre as bases do autoconhecimento e sua importância para nossa existência:
“Todo o curso da evolução (tomada de consciência) tem como estrutura o autoconhecimento – que proporciona o autoamor – passo decisivo para que essa força criadora desabroche com todas as potências que lhe são pertinentes. ”
Vocês têm ideia da importância dele em nossas Vidas? Sem ele não progredimos intimamente. Mas como buscá-lo? A mentora espiritual ainda ressalta:
“A conscientização do ser leva-o a um conhecimento profundo das possibilidades criativas e realizadoras, que trabalham pelo seu e pelo bem da sociedade onde se encontra.”
Assim, primeiramente devemos nos fazer a seguinte pergunta: Quem sou eu?
Somos Espíritos imortais, filhos de Deus, convidados pelo Criador a evoluir, aproximando-nos Dele, até alcançarmos a pura e eterna felicidade.
Portanto, nesse processo, é fundamental que façamos exercícios de autoconhecimento, pois, se não conhecermos as nossas possibilidades nem as nossas limitações, como faremos esforços de melhora interior? Como alcançar a pura e eterna felicidade se não sabermos quais virtudes somos convidados a desenvolver?
Muitas pessoas, inclusive dentro do Movimento Espírita, se voltam apenas para fora, praticando a caridade material, a caridade para com o próximo e esquecem da caridade para consigo mesmo, de olhar para dentro de si e se perceberem enquanto seres importantes de sua história. Esquecem ou não se dão conta de que o conhecimento de nós mesmos é a maior necessidade da criatura humana (Questão 232)².
Qual a necessidade de se reconhecer orgulhoso? Trabalhar a virtude da humildade…
Qual a necessidade de se reconhecer ansioso? Trabalhar a virtude da serenidade…
Qual a necessidade de se reconhecer impaciente? Trabalhar a virtude da paciência…
Só reconhecendo essas limitações em nós mesmos, aceitando-as, e não negando-as é que a transmutaremos.
Só a título de exemplificação, nesse processo de autoconhecimento eu reconheci em mim mesma pseudo virtudes, ou seja, achava que tinha “virtudes”, quando não passavam de limitações. No início é difícil acreditar nisso, mas depois começamos a ver o quanto somos gratos por ter percebido a tempo.
De grande valia é o exemplo que Santo Agostinho nos deu ao apresentar o mecanismo de autoconhecimento, o qual ele se utilizou quando encarnado.
Ao final de cada dia, perguntava a si mesmo acerca dos seus comportamentos, se agiu no bem ou no mal, colocando-se no lugar dos outros, quando necessário , e analisava profundamente a resposta, a fim de saber como proceder no dia seguinte.
Na questão 919 do Livro dos Espíritos² ele nos ensina esse método e nos aconselha:
“Perguntai ainda mais: ‘ Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’ Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado”.
Podemos seguir esse modelo de Santo Agostinho ou criar a nossa maneira de exercitar o autoconhecimento, aproveitando o seu exemplo e adaptando-o às nossas necessidades.
Por enquanto, venho me esforçando para seguir o modelo dele. E quando digo me esforçando, é nesse sentido mesmo. A correria do dia a dia, os afazeres domésticos e familiares, a nova série da Netflix, o trabalho, tudo isso nos leva a esquecer esse momento tão importante e que requer apenas alguns instantes de reflexão diária.
Que façamos disso um exercício recorrente e, que vire rotina.
Todavia, é importante que ao olharmos para o nosso interior o façamos com amorosidade, livres de autojulgamento, autocondenação e autopunição. Esses sentimentos, ao contrário do que muitos pensam, não nos corrigem as faltas, tornando-nos melhores, mas aprofundam o nosso lado sombra, fazendo com que nos vejamos como Espíritos indignos da pura e eterna felicidade.
Deus, em sua infinita bondade, não quer que nos sintamos indignos da verdadeira felicidade. Ele nos ama e quer a nossa evolução moral, rumo a perfeição.
É fundamental que nos sintamos como aprendizes da Vida, Espíritos em evolução e que cometemos erros, pois o aprendizado advém desse processo. Mas jamais esqueçamos que, a Lei de Liberdade permite, nos traz também a responsabilidade de assumir as consequências, com o dever de repará-los, conforme nos convoca a Lei de Amor Justiça e Caridade.
E sigamos em frente, confiantes em Deus, na Vida, e nas Leis do Criador.
Referências:
1. ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Autodescobrimento uma busca interior. Salvador, BA: LivLivraria Leal. 2013.
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
3.AUROES DIVERSOS. Introdução ao Estudo Reflexivo da Doutrina Espírita. Editora Espiritizar.
4. Vídeos – aulas do Projeto Espiritizar.